terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Causos verídicos de infância

A infância é sempre cheia de histórias, e muitas delas já mostram traços de personalidade que nos acompanharão por toda a vida. Uma conversa com o meu amigo Willian Maia do Maia Bows me inspirou a criar este post para contar algumas delas, todas acontecidas comigo em épocas distintas e não cronologicamente ordenadas.

O primeiro canivete a gente nunca esquece

Eu tinha uns 7 anos quando minha avó paterna me levou para Barbacena, onde temos parentes. Na parede do quarto de um primo mais velho ficava um quadro de cortiça cheio de coisas afixadas, e lá no canto, preso por um alfinete estava um chaveirinho daqueles de brinde que era um mini canivete, bem pequeno mesmo, com talas de empunhadura feitas de acrílico azul com o nome da empresa escrito. Eu desenvolvi na hora uma fixação pelo canivetinho e cismei que queria levar para casa.

Devo ter insistido bastante pois em dado momento esse primo disse que o venderia para a minha avó, que por sua vez perguntou o valor e disse que iria pagar com um cheque sem fundo. Eu passei um bom tempo tentando entender como uma folha de papel poderia não ter fundo, talvez tivesse um furo? Concluída a transação(ou não, pois acredito que foi brincadeira dos dois e eu ganhei o chaveiro mesmo) aquele canivetinho minúsculo veio para casa comigo, e apesar de não fazer nada com ele foi "curtido" por um tempo, até desaparecer da minha vida misteriosamente. Provavelmente foi perdido, mas realmente não me lembro. De qualquer forma, foi o meu primeiro canivete. Ah, eu nunca soube o nome da empresa que distribuiu aquele brinde.

O canivete do "Magaiver"

Era a década de 80 e seus filmes e seriados icônicos serviam de combustível para meus devaneios infantis. Foi assistindo ao seriado Profissão Perigo, onde o agente Angus MacGyver conseguia fazer de tudo com seu canivete cheio de funções que mais parecia um estojo automático japonês(essa denunciou feio a idade...) que eu tomei conhecimento do mítico canivete suíço. Não demorou muito para que eu simplesmente TIVESSE que ter um treco daqueles, e não por coincidência pouco depois os chineses já se encarregaram de inundar o país de cópias baratas dos Victorinox. Um dia eu estava na rua com a minha mãe, e certamente após mais um pouco de insistência ganhei um desses, e ainda no taxi voltando para casa consegui cortar o dedo. Importante lição aprendida e nunca esquecida(não fechar o canivete no dedo).

Um chinês igual ao que me serviu durante a infância. Foto tirada de anúncio no Mercado Livre.
Este "canivete do Magaiver" passou bastante tempo soltando e apertando parafuso de ônibus escolar com uma arruela de chiclete e outros trabalhos absolutamente sem importância que eu conseguia inventar(e realizar), até ele praticamente se desmontar na minha mão. Na minha cabeça foram horas incontáveis desarmando bombas e escapando de grande perigo. Provavelmente o maior perigo era ser pego e ouvir a bronca certa da minha mãe, mas o que vale é a intenção...

Minha primeira faca

Chegou um momento na virada da década de 90 onde eu achei que precisava de uma faca, afinal todo escoteiro tinha uma, o Tarzan também, só eu não tinha. Todo garoto de 12 anos precisa de uma faca, aliás acredito nisto até hoje. Perto de onde morávamos na época tinha uma grande papelaria daquelas que praticamente não existe mais, onde a vitrine exibia de brinquedos a capas de chuva, isopores de cerveja e outras utilidades, e em um canto tinham alguns canivetes e facas da Tramontina, nesta época praticamente a única marca de cutelaria de caça e pesca no país.

Eu simpatizei com uma faca com cabo de borracha, modelo Amazonas, e durante muito tempo fiquei juntando dinheiro com o intuito de compra-la, indo a pé para a escola(em outro bairro) e pedindo lanche aos meus pais sem comer para poder economizar. Quando já havia juntado uma quantidade de trocadinhos que faria inveja a qualquer mendigo uma tia cansou de ouvir minha história triste e completou o valor que faltava para eu comprar a faca.

Tramontina Amazonas igual à minha primeira faca. Foto tirada de anúncio no Mercado Livre.
Quando entrei na loja onde passava todo dia com meu dinheirinho surrado e pedi a faca, o dono me deu uma olhada de cima abaixo e perguntou pra que eu queria, desconfiado. Tive uma baita presença de espírito( primeiro caso do qual me lembro) e respondi no ato que era pra pescar com meu pai. O cara me vendeu todo satisfeito a tão sonhada faca, e lá fui eu pra casa com ela. Meu pai se surpreendeu com meu esforço secreto para conseguir a faca e me deixou ficar com ela, com a condição de que eu não fizesse nenhuma besteira.

Durante um bom tempo(não tanto assim, fazendo as contas agora) eu usei esta faca para tudo, de cortar bife(eu me sentia O cara fritando meu próprio bife) a embalagens de papelão, abrir latas e ela ia comigo para qualquer viagem de fim de semana, por mais urbano que fosse o destino.

Alguns anos mais tarde, quando eu já tinha outras facas, um amigo da escola me confidenciou quase com vergonha que apesar de se interessar muito por cutelaria ainda não tinha nenhuma lâmina e eu improvisei uma embalagem de presente e dei a minha para ele. Mais de dez anos depois nos reencontramos, e soube que ele ainda guardava com orgulho aquela Tramontina. Coisas bacanas de saber...

Ah, coitado, meu pai deve ter morrido sem nunca ter pescado na vida, comigo com certeza nunca foi.

A origem do cantil

Sabem porque eu comprei meu cantil? Um pouco antes da história acima eu ganhei umas revistas do meu pai, a maioria 4 Rodas da década de 70, em uma delas tinha uma página de anúncio de materiais de camping da época, e eu sonhador viajava só nos itens daquela página. Surgia a vontade de ter aqueles equipamentos.

Um dia assistimos um filme antigo de naufrágio e aquelas cenas ficaram na minha cabeça, durante bastante tempo este era o cenário das minhas brincadeiras. Eu pegava uma mesa de jogo de botão que tinha e colocava em cima da cama dos meus pais, que tinha colchão grande e meio mole, aquilo virava minha balsa de náufrago e balançava bastante...

Eu dormia com uma garrafa de água ao lado da cama e ela virou o kit de sobrevivência da balsa, só que vazava na cama dos meus pais, pois era apenas uma pequena garrafa de geladeira, a tampa não foi feita para funcionar na horizontal e isso era um motivo para agora eu PRECISAR de um cantil de verdade.

Já sabem, eu perturbei minha mãe até ela ir comigo comprar. Só que na Mesbla já não tinha daqueles cantis de alumínio iguais aos do anúncio, era a primeira vez em que via os produtos da Trilhas e Rumos. Fiquei meio decepcionado mas levei o cantil de plástico pra casa e ele participou de todas as aventuras comigo, teve a tampa trocada duas vezes e perdeu a capa original, bastante compreensível afinal já está perto de completar 30 anos de serviço...

O cantil preservou sua capa original até o fim da década de 90.
Espero que tenham gostado destas histórias, me trouxeram boas lembranças.

Te vejo na trilha!

2 comentários:

  1. Amigo, vc sabe me dizer qual é a marca desse canivete, tenho um que ganhei de meu pai, apesar de estar comma capa de vinil quebrada está com suas funcionalidades perfeitas. Gostaria de restaurá-lo. abs

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    1. Este é um canivete genérico chinês, todos eles quebravam as talas porque a qualidade era muito ruim.

      Desculpe a franqueza, mas não vale a pena tentar restaurar, você não vai encontrar as talas para substituir, guarde este de recordação e compre um legítimo suíço como o Victorinox, este sim aguenta trabalho pesado.

      Abraço.

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