quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Porque gosto do meu Fusca


Este post pode parecer fora de contexto dentro do blog, mas na verdade não é. Continue lendo e veja porque...

O fusca, que na verdade se chamava Volkswagen Sedan até a série Itamar da década de 90 assumir oficialmente o apelido, é um dos melhores veículos para locais de difícil acesso como estradas de terra, areais, vias esburacadas, devido a suas características robustas de construção. Ele tem desempenho surpreendente para quem não o conhece, e manutenção simples e barata, o que explica seu sucesso em áreas rurais mundo afora.

História

Tudo começou em 1933, quando Ferdinand Porsche foi contratado pelo governo alemão para projetar e construir um veículo que fosse barato, de simples manutenção, robusto e eficiente para encarar as então precárias estradas alemãs. As agora famosas Autobahns, autopistas perfeitas sem limite de velocidade eram apenas projeto ainda, a realidade do país era bem precária, tendo saído da primeira guerra mundial prejudicado e pagando pesadas multas ao governo francês.

O requisito era projetar um carro pequeno e leve, capaz de transportar 2 adultos e 3 crianças, com velocidade de cruzeiro de 100km/h. A idéia era popularizar o automóvel, o povo alemão deveria poder aproveitar o desenvolvimento da malha rodoviária, assim como acontecia nos Estados Unidos com o Ford. Daí surgiu o nome Volkswagen, que significa carro do povo em alemão.

Porsche aproveitou sua experiência como projetista e construtor de carros de corrida durante as décadas de 20 e 30, quando participava da equipe Autounion, e usou seu conceito de motor boxer refrigerado a ar, e suspensão independente com tração traseira no novo veículo. Um desenho considerado aerodinâmico e moderno para época foi feito para a carroceria.em 1936 entraria em produção.

Um dos primeiros protótipos do Sedan, ainda chamado KDF Wagen. Fonte: KDF-Wagen.de.


Nascia o Volkswagen Sedan.

A partir de um mesmo conceito básico, foram projetadas algumas variações para uso militar, que se mostraram sucesso imediato. Os Kubelwagen e Schwimmwagen seriam vistos em todos os fronts durante a segunda guerra, dos desertos africanos às estepes russas. A versão americana da história do conflito não dá muita importância a estes destemidos carrinhos, como forma de propaganda de seus Willys, mas sabemos que os VW os superavam em muitas situações.

Kubelwagen em ação. Fonte: KDF-Wagen.de.

O Schwimmwagen, anfíbio e 4x4! Fonte: KDV-Wagen.de.
 Foram estes que provaram as incríveis habilidades do conjunto mecânico projetado por Porsche, nas condições extremas de temperatura em que operavam, encarando atoleiros, dunas de areia, neve e terrenos esburacados. A simplicidade de manutenção permitia a uma reduzida equipe de mecânicos efetuar serviços complexos em pleno front, sem necessidade de uma estrutura que outros modelos requeriam. Curiosamente, devido à escassez de gasolina pelo esforço de guerra, alguns foram adaptados para funcionar com gás natural, sendo equipados com biodigestores no lugar do tanque de gasolina!

Veículos Volkswagen adaptados para queimar gás natural. Fonte: KDF-Wagen.de.


Passada a guerra, foi justamente um inglês que fez o fusca ganhar o mundo. Responsável por comandar um setor específico da Alemanha onde havia a fábrica da Volkswagen, o major Ivan Hirst imediatamente tomou posse de um dos veículos que haviam sobrado dos bombardeios, e se encantou por ele.

A partir deste momento fez pressão para que a fábrica fosse recuperada e reativada, pois sabia da importância que aquele carrinho poderia ter na reestruturação da Alemanha. O resto todos sabem, o Sedan não apenas dominou o país como foi sucesso de vendas no mundo todo por décadas, sendo produzido em diversos países, na marca de 23 milhões de unidades e gerando alguns derivados.

Trem parte de Wolffsburg carregado de novos Sedans. Fonte: KDF-Wagen.de.

Características mecânicas do Fusca

Seu motor é de 4 cilindros deitados e opostos 2 a 2, daí o nome boxer, por "socar" os pistões para os lados. Ele é fixo somente na caixa de marchas, por 4 fortes parafusos, tornando sua retirada do carro tarefa fácil para 2 pessoas.
Funcionamento do motor boxer.
 A refrigeração é feita de forma simples e eficiente através de um radiador de óleo, localizado atrás da ventoinha que é fixa no eixo do dínamo (alternador nas versões mais modernas), que por sua vez é acionado via correia por meio da polia do virabrequim.

O óleo do motor circula por sulcos no bloco, passando por todos os pontos importantes e refrigerando o motor como um todo. Isto torna desnecessário um radiador de água, que equipa os demais veículos. Esta característica é muito bem vinda tanto em lugares quentes quanto frios, pois nos primeiros não há chance do motor ferver, e nos seguintes não há congelamento quando o motor desliga.

O próximo componente, e que é uma das maiores vantagens dele, é a caixa de marchas, praticamente indestrutível, de transição suave e com uma relação que permite ao carro ter muita força nas primeiras marchas, e rodar com relativa facilidade na velocidade de cruzeiro. Comparado aos carros mais modernos, 100km/h é pouco, mas na década de 30, poucos carrros chegavam nesta velocidade e nenhum conseguia mantê-la indefinidamente sem gerar problemas no motor.

A suspensão do fusca, com feixe de molas na dianteira e barra de torção na traseira, opera de forma independente nas 4 rodas, algo revolucionário para a época e ainda muito interessante para transitar em locais esburacados como estradas de terra e até mesmo algumas trilhas.

O fato da tração ser traseira ajuda o carro a andar nestes terrenos ruins, e o motor pesando diretamente acima dela ajuda a manter a tração no chão.

O uso do fusca

A simplicidade do conjunto é seu maior trunfo, aliado a robustez do mesmo. Isto explica porque em qualquer roça que se vá o carro soberano é o fusca. Alguns resistem bravamente mesmo tendo a manutenção negligenciada por décadas.

Na roça o fusca é sucesso garantido!

Na década de 60, os dune buggys se tornaram famosos por suas habilidades nas areias da Califórna, e de lá o conceito de chassi VW encurtado com carroceria aberta em fibra de vidro dominou o mundo. No Brasil não há uma região litorânea em que não se ache alguns rodando, e pelo Nordeste eles são muitos, inclusive atuando no turismo.

Bugre, uma das mais antigas e tradicinais marcas nacionais. Fonte: Planetabuggy.
 Na mesma época, a corrida no acidentado deserto de Baja Califórnia, no México, deu origem a fuscas com algumas modificações, como suspensão levantada, paralamas recortados e pneus lameiros, que também se mostraram excelentes no off road. Estes modelos levam o nome Baja até hoje, e continuam populares pelo mundo todo, com dezenas de kits em fibra de vidro sendo comercializados para estas transformações.

Baja campeão alagoano "voando" na trilha! Fonte: Planetabuggy.
 Para ambos os fins existem também as famosas gaiolas, veículos tubulares com a mecânica VW, alguns produzidos em série, outros em casa. Devido ao seu baixíssimo peso, cerca de metade do peso de um fusca, sãao muito velozes e capazes de coisas surpreendentes, mas prepare-se para um banho de lama completo!

Gaiola By Collela empinando. Fonte: Site Colella.
 Todos estes exemplos mostram que a mecânica VW a ar é extremamente versátil e capaz de enfrenter os terrenos mais complicados, ao contrário do que pregam muitos fâs dos jeeps com tração nas 4 rodas.

Mas não se engane, mesmo um fusca originalzinho é capaz de encarar estradas que você pensa serem impossíveis. Duvida? Olhe com mais atenção quando estiver no interior, seja em uma fazenda, sítio ou apenas cidade pequena. Aliás, o youtube está cheio de exemplos de fuscas fazendo peripécias admiráveis, é só pesquisar.

Alguns exemplos dos meus 10 anos de aventuras com os fuscas:

Viagem do Rio a Trindade.
Estrada de terra em Minas Gerais. Neste mesmo lugar foram feitas as fotos do post sobre binóculos.
Voltando das compras após uma semana de chuvas.
Meu fusca atual. Tão original quanto possível.
 Resumindo, com baixo investimento é possível sim ter um veículo que encara areia, trilhas e terreno ruim em geral com valentia e confiabilidade.

Entendeu agora porque eu gosto tanto do fusca?

Te vejo na trilha!

22 comentários:

  1. Concordo plenamente, o "jeep de gravata" não deixa nada a desejar, quando o assunto é a estrada de terra. Ótimo post!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu sou fã do fusca e seus derivados, e ano que vem é bem provável que eu pegue outro, quando a mudança de cidade acontecer.

      Aguarde...

      Excluir
  2. estou afim d epegar um fusca também. A questão consumo não torna o fusca defasado? Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lukas, na verdade as pessoas tem o hábito de comparar carros de categorias diferentes.

      Não se pode pegar um fusca 1500cc ou 1600cc e comparar com um carro flex 1000cc, tem que comparar com um 1.4 ou 1.6 atual, e neste sentido você verá que os consumos são equivalentes.

      O meu fusca(1500) bem reguladinho faz entre 10 e 12km por litro de gasolina, pode pegar um Gol 1.6 e ver o consumo médio, não tem como ser mais baixo que isso.

      O punto 1.4 que era do meu pai faz uma média de 7! Um beberrão.

      Agora, o que se pode afirmar é que os carros atuais com o mesmo consumo andam mais rápido, mas se velocidade é sua principal preocupação então o fusca não é a melhor escolha pra você.

      Espero que tenha ajudado, qualquer coisa pode perguntar.

      Abraço.

      Excluir
  3. vou postar aqui pq e o 1 post q ta listado, sobre o fusca tb admiro e o blog em si é muito legal, vou dar uma fuçada boa nele mais tarde abs. Mora no rio ainda? Moro em Niteróim abs.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que gostou do blog amigo, em breve terei novidades por aqui.

      Moro no Rio sim.

      Abraço.

      Excluir
  4. Vivi altas aventuras com meu pai e nosso fuscão azul! Andava bem no barro!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É como eu sempre digo, difícil encontrar alguém que não tenha vivido alguma história com um fusca.

      As novas gerações vão começar a ter menos envolvimento com ele, mas da nossa para trás...

      Abraço!

      Excluir
  5. po cara... postei ontem sobre o fusca no meu blog. sou fanatico nesse carro, tudo a ver com sobrevivencia, aventura e finanças!

    abraço!!!

    ResponderExcluir
  6. É isso ai companheiro nós utilizamos o fusca para fazer aventuras pelo brasil, gostamos muito de seu site!

    um grande abraço da equipe

    fusca1974adventure.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Opa, bacana Ronaldo! Vou dar uma olhada no seu blog com calma mais tarde, parece muito legal.


      Um abraço.

      Excluir
  7. André, vou comprar meu primeiro carro e estou de olho em um Fusca, 1.6, ano 1996.

    Como vou usar o veículo também em viagens semanais (percurso de pouco menos de 250 Km), tenho algumas dúvidas e peço que, se possível, você me esclareça:

    1-) Qual o consumo do Fusca 1.6, ano 1996, gasolina?

    2-) Pela sua experiência, o Fusca também aguenta encarar as rodovias.

    3-) E em viagens mais longas (500 Km ou mais)? Ele dá conta do recado?

    Desde já, muito obrigado pela sua atenção e parabéns pelo blog, que é fantástico!

    Abraço!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lord, pode comprar sem medo, a série Itamar é a última fornada do fusca aqui no Brasil, são carros que ainda estão fazendo 20 anos, ainda rodam muito sem ter preocupação com problemas mais sérios. O meu fez o dobro da idade este ano, eu precisei fazer motor este ano, gastei 2000 reais e tenho motor zerado por pelo menos mais 20 anos.

      A não ser que algum dono anterior tenha alterado, ele tem dupla carburação, e se bem regulado deve te garantir uns 10km/litro dirigindo normalmente e tem bastante fôlego nas retomadas de velocidade e subidas, chega a surpreender.

      O fusca fez e faz viagens internacionais até hoje, conheço umas 3 expedições que rodaram mais de 5 mil km pela América do Sul sem defeitos. Claro que para isso a manutenção deve estar em dia. O fusca é guerreiro, porque você acha que no interior tem tantos? Porque poucos veículos passam tantos anos aguentando condições ruins de estrada como ele.

      Seu carro já conta com ignição eletrônica e alternador, ou seja, nem com platinado e bateria descarrregada você tem que se preocupar no caminho. É regular e andar por muito tempo.

      Espero que tenha ajudado a se decidir. Boa sorte na compra, e depois me mostre umas fotos do seu carro!

      Abraço.

      Excluir
    2. Fusca é Fusca. Um bom acessório para ele são correntes!

      Excluir
    3. Jorge, taí um acessório que eu nunca usei! Mas por falta de oportunidade mesmo...

      Abraço!

      Excluir
  8. Olá, gostei muito. Poderia me dizer qual o pneu ideal para uso misto (asfalto/terra) para o fusca Itamar?
    Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Antônio, eu particularmente gosto muito dos pneus Kelly G metric que equipavam originalmente os Itamar, uso no meu fusca há 10 anos.

      A não ser que pretenda encarar terreno muito ruim, mais trilha que estrada de chão, não precisa de nada além deles, te garanto.

      Obs:Já vi alguns fuscas de fazenda, que nunca rodam no asfalto além de ir na cidade comprar alguma coisa e voltar pra roça usando pneus traseiros Magggion modelo militar, mas já sei através de amigos trilheiros que pra terreno realmente ruim eles não são bos, então tire suas conclusões.

      Abraço.

      Excluir
  9. Caro André, estou descobrindo seu blog agora e só tenho a parabenizá-lo pelos textos interessantes e úteis. É, porque de coisa inútil a internet está cheia, não é? E esse seu post sobre fusca é pra fazer qualquer pessoa querer comprar um agora mesmo. Também sou fã de fusca, apesar de não ter um, mas ainda vou ter. Uma pergunta: você tem conseguido achar peças aí no Rio? Porque sendo mais antigas, imagino que sejam um pouco difíceis de encontrar e, por isso mesmo, mais caras. É isso mesmo? Um abraço, João.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi João, desculpe a demora em responder, o Blogger mudou a interface e não apareceu notificação do seu comentário.

      Vamos lá: Primeiramente obrigado pelo elogio, fico feliz de saber que você está gostando do blog. Quanto os fuscas e derivados, ainda se acha bastante peça para eles, princialmente agora que eles viraram cult, porém como não são fabricados há muitos anos alguns itens são paralelos e de qualidade bem mais ou menos, mas graças à internet muitas vezes podemos encontrar peças originais de estoque antigo em algum canto esquecidas, ou até usadas e em bom estado, dependendo da situação pode ser uma boa comprar assim, mas geralmente esta é uma preocupação de quem é colecionador e quer o máximo de originalidade no carro.

      O ponto mais importante é pesquisar bons profissionais de mecânica e lanternagem, porque nem tudo você vai fazer em casa e a maioria das oficinas só trabalha com carros novos, que não tem muito reparo em lata, é trocar peça e pintar. Mecânica idem, carros modernos não tem ajustes e regulagens manuais, liga no computador e ele acerta, portanto este tipo de profissional quase artesanal está escasso.

      Por favor, não desanime de ter seu VW, foi só uma dica para evitar dores de cabeça como as que eu tive nestes 15 anos rodando de fusca.

      Abraço!

      Excluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...