quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Voltando ao básico. O que é realmente necessário?

O essencial: uma boa lâmina e um modo de fazer fogo.
Relendo alguns posts e conversando com amigos, percebi que posso ter induzido algumas pessoas a pensar erroneamente que o que faz o trilheiro é seu inventário de equipamentos modernosos.

Certamente existe uma tendência neste mundo moderno de vender equipamentos como sendo essenciais, e a cada dia aparecem mais produtos especializados para diversos fins.

A sociedade norte americana, na qual nos baseamos em grande parte, tende a super especializar todo tipo de equipamento, como se não houvesse uma ferramenta capaz de suprir razoavelmente mais de uma função.

Já na Europa os conceitos são mais simples, o básico é suficiente em muitos casos.

Isto é notado no vestuário, nos equipamentos de camping, cutelaria, armas de caça e em outros setores. Existem modelos de facas que são produzidas e usadas há séculos em alguns países, com pouca ou nenhuma alteração, justamente por cumprirem seu propósito até hoje.

Confesso que tenho admiração por alguns equipamentos modernos e suas soluções inteligentes, mas devemos ficar atentos ao risco de ficarmos presos a uma cadeia infindável de necessidade de renovação, como se a mochila modelo 2010 fosse inferior à modelo 2011, e assim sucessivamente.

Minha mochila para trilhas menores é a  Maxpedition Condor II, mas para eventos maiores ou mesmo viagens uso uma cargueira de 75 litros que me acompanha há mais de dez anos. Não sinto necessidade de adquirir outra.

Uma mochila pode se manter funcional e adequada por muitos anos.

Hoje em dia existem barracas de camping muito leves, de material resistente e sintético, que são muito admiradas por mochileiros. Mas se alguém só acampa com um veículo de apoio, leveza é tão importante? A antiga e confiável barraca desta pessoa continua servindo tão bem quanto antes ou deve obrigatoriamente ser substituída?

Debato isto constantemente em relação a material de arqueiria. Possuo um arco composto de fabricação nacional que é em todos os aspectos idêntico aos arcos top de linha de 15 ou 20 anos atrás, nos EUA. Naquela época um arco com estas características era adequado para caçar todo tipo de animal no país deles, bem como para participar de diversas modalidades esportivas. Porque o meu não seria, hoje? Só porque a tecnologia evoluiu para materiais ainda mais leves, rápidos e potentes? Não se deixe enganar pela propaganda de fabricantes.

Meu arco. Design ultrapassado segundo alguns. Será?

Toda escolha e compra de equipamento deve se basear na necessidade/preferência individual.

Se uma faca supre todas as suas necessidades, não é porque o cidadão X ou Y diz que a outra é melhor que você deve considerar a sua inferior ou inútil. Não existe produto mais indicado para qualquer coisa ou pessoa. O que existe é produto mais indicado para você e suas necessidades, e isto varia enormemente.

Todos percebem que adoro lâminas, e por isso tenho mais do que o necessário, fazendo escolha de quais usar de acordo com o ambiente/atividade praticada.

Algumas de minhas facas. Da esq. para a dir: Bowie Callegari, EDC Voss, Sharp Finger Callegari, Utilitária Camacho, Mora Clipper.

Por outro lado, há quem passe toda a vida com apenas uma e fique plenamente satisfeito. Se é seu caso, perfeito, não há porque mudar.

E, mesmo com minha admiração pelos materiais modernos e seus designs inovadores, em alguns equipamentos minha preferência recai justamente no tradicional. É o caso das facas.

Pelo mundo todo existem adeptos de equipamentos tradicionais ou mesmo antigos, alguns inclusive participando de encontros de reencenação de batalhas históricas ou acampamentos primitivos, e estas pessoas consideram que apesar dos tempos serem outros as necessidades do homem continuam as mesmas, o que não deixa de ter sentido.

O que é simples e funcional vai ser sempre eficaz, independente do que diga a moda do momento.

Lembrando sempre da frase que já citei aqui: "Quanto mais se sabe, menos se carrega" tenho tentado voltar ao básico, adquirir conhecimentos que me permitam estar bem equipado mesmo levando o mínimo. Apesar de ter alguns equipamentos em redundância, acabo voltando a alguns de costume. Aos poucos vou ajustando a quantidade de coisas à real necessidade de acordo com cada situação.

O equilíbrio entre equipamento e conhecimento é meu objetivo.

Se também é o seu, junte-se à discussão, a participação é sempre muito bem vinda.

Te vejo na trilha!

12 comentários:

  1. André,

    Concordo com todos os princípios que você colocou. Não há porque ficar preso a um consumismo desnecessário. Eu gosto e uso muitos equipamentos modernos e me interesso por inovações em termos de materiais e design. Curto ficar folheando catálogos de equipamentos e acho que em muitos casos as novidades facilitam a vida e aumentam a segurança dos mochileiros.
    O cuidado é não saber se virar ou desistir de alguma atividade quando não se dispõe de um ou outro recurso.

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  2. É exatamente o ponto.

    Ninguém precisa gastar todo o dinheiro em equipamento para poder praticar algumas atividades.

    Aliás, frequentemente são as pessoas com menor poder aquisitivo que aproveitam mais as atividades de bushcraft, pois elas não comprarão diversos equipamentos para cada tarefa, aprendem a usar bem os poucos que têm.

    Você é como eu, os catálogos importados se acumulam na minha mesa, fico babando em algumas coisas a que os gringos têm acesso.

    Abraço!

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  3. Verdade. Se formos ligar ao consumismo, o princípio básico de estar no mato vai sumir né?
    Aquilo que se adequar ao indivíduo e satisfazer todas as necessidades é que o vai valer sempre.
    Coerência como você colocou!
    Muito Bom!

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  4. Isso aí, vocês estão captando o espírito da coisa.

    Abraço!

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  5. Gostei muito do post! Pelo que tenho observado, até uma determinada idade, voce consegue andar 20Km por dia com um peso de 25Kg nas costas, depois dessa idade voce começa a reduzir o equipamento.

    Equipamento nunca fica obsoleto, apenas fica ultrapassado por tecnologias mais novas, mas nunca deixa de cumprir suas funções.

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  6. Pois é, tem este fator também.

    Estou gradativamente reduzindo a quantidade de coisas que me acompanham ao mato.

    Simples e funcional, assim deve ser.

    Abraço Jorge!

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  7. ... só pra avisar ... estou devorando teu site cara, meus parabéns pelo conteúdo de alto nível técnico, o que estou aprendendo aqui vale muito mais do que qualquer site comercial de mochilismo !

    Obrigado !

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  8. Obrigado pelo comentário, fico feliz que tenha gostado do blog.

    Estou terminando um novo post até o fim de semana, pretendo dar uma aumentada na frequência de posts novamente, fique de olho.

    Um abraço.

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  9. André Mirando;

    Esta sua faca utilitária Camacho, quem é o cuteleiro?
    Gostei muito do desenho desta lâmina e gostaria de uma em meu equipamento.
    Desde já agradeço.

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    1. Olá Tiago.

      Camacho é o nome do cuteleiro, o endereço de seu site está nos links aqui do Blog.

      Um abraço.

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  10. Assim como o colega ali de cima, estou devorando teu blog. Tem muita coisa muito boa por aqui, cara!

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    1. Obrigado Sam! Estou trabalhando em novos posts, em breve você poderá ver novidades por aqui.

      Abraço.

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