segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Usando mapa e bússola.



Mapa e bússola, dois grandes aliados de todo trilheiro.

Embora nos últimos anos a palavra orientação esteja frequentemente ligada ao uso de aparelhos de GPS, durante séculos ela significou mapa e bússola.

Este eficaz sistema ainda é muito válido, sobretudo se considerarmos as possibilidades de falhas com o equipamento eletrônico, algo potencialmente desastroso em situação de emergência. Ter boas noções de leitura de mapas e orientação por bússola ainda é uma habilidade muito útil a todo trilheiro. Além disso o custo é muito mais baixo que o de um GPS médio.

Uma bússola nada mais é que um instrumento imantado que aponta para o norte magnético da Terra. Os mapas mostram o norte verdadeiro, que é um eixo vertical estipulado no centro da Terra. A diferença entre eles é chamada declinação magnética. Para que a leitura seja precisa, temos que descontar a declinação na marcação da bússola. Nada demais, afinal a declinação é conhecida e a variação anual é constante.

Muitas vezes, mesmo que não se tenha um mapa, a bússola por si só já é uma tremenda ajuda, quando se sabe um mínimo a respeito da região em que se está. Um exemplo: Em qualquer ponto no município do Rio de Janeiro, seguir para o sul significa seguir para o mar. Estando completamente perdido na Floresta da Tijuca, se o trilheiro seguir sempre no rumo sul acabará chegando a uma praia, embora seja mais provável encontrar civilização antes disso. Outro uso exclusivo da bússola: Tendo algum ponto de observação mais elevado, pode-se escolher um ponto de referência para navegação no horizonte, e com ajuda da mira da bússola, traçar a rota até chegar nele. Ainda que se esteja atravessando uma densa floresta, a rota certa será seguida.

Caso não tenha a bússola, tendo visão do sol e com ajuda de um relógio de ponteiros o norte pode ser identificado. No hemisfério sul, aponte o número 12 para o sol. O norte estará exatamente entre ele e o ponteiro de horas. No hemisfério norte, aponte o ponteiro das horas para o sol. O sul estará entre este ponteiro e o número 12.

O topo dos mapas sempre aponta para o norte verdadeiro, e na legenda consta a declinação para a região mostrada, logo, basta calcular o desconto para a marcação da bússola ficar exata. Este processo apesar de simples é vital, pois 20 graus de desvio ao longo de um quilômetro andado significam 400 metros de erro!

Todo mapa é impresso em uma escala, e as cartas topográficas, isto é, os mapas que mostram as variações do relevo através de curvas de nível seguindo cotas de altitude, normalmente têm escala de 1:50000, 1:25000 ou mesmo 1:20000, o que significa dizer que cada centímetro representado no mapa equivale a 50000/25000/20000 centímetros no terreno real.

Legenda de escala em carta topográfica.




Legenda da declinação magnética em uma carta topográfica.
Exemplo de curvas de nível em uma carta topográfica.
A carta tem a enorme vantagem de mostrar uma representação 3D do terreno, onde as curvas de nível mais afastadas umas das outras representam inclinações mais suaves, e curvas mais unidas representam desníveis abruptos. Saber ler estas informações possibilita escolher o melhor roteiro para cruzar uma determinada região. É sempre desejável uma rota com subidas e descidas suaves e regulares. Esta é a razão das trilhas seguirem sempre em um padrão de ziguezague nas subidas. Para medir as distâncias em uma carta topográfica pode-se usar um pedaço de cordinha ou barbante, seguindo o traçado desejado. Depois basta medir o comprimento esticado do mesmo. Uma boa referência para o cálculo de tempo de trilha na fase de planejamento é a regra de Naismith: Calcule 60 min para cada 5km andados segundo o mapa. Some 30 min para cada 300m de subida. Subtraia 10 min para cada 300m de descida moderada. Some 10 min para cada 300m de descída íngreme.

Existem alguns truques para navegar corretamente até um determinado objetivo no mapa. Aqui vão dois deles:

Mirando ao largo - Devido à chance de desvio citada anteriormente, pode ser arriscado navegar diretamente para um objetivo. Se este for por exemplo a bifurcação de um rio, você pode errar tentando ir diretamente para ela, e nesta situação não saberá para que direção procurar. Caso dê um desconto generoso para um lado ou outro, ao chegar no rio saberá para onde acompanhar até encontrar o objetivo.

Seguindo um corrimão - Muitas vezes, o destino fica atrás de algum obstáculo que impede uma visada, ou mesmo uma navegação direta. Você pode usar algum marco linear no terreno que o levará até o objetivo, ou então a um lugar mais próximo de onde poderá tirar uma visada direta. São exemplos de marcos: rios, estradas e cristas de montanhas, entre outras coisas.

Desviando - Frequentemente é mais vantagem desviar de um grande obstáculo ao invés de perder tempo atravessando. Bons exemplos são áreas alagadas ou trechos de mata muito fechada. Você deve desviar 90 graus, contar a distância andada(você deveria saber o comprimento de sua passada), voltar 90 graus e andar até passar do obstáculo, para então virar 90 graus de novo, e andar de volta a mesma distância do início. Isso deve deixá-lo na sua rota inicial, logo após o obstáculo.

Um outro instrumento útil na navegação é o altímetro, pois sabendo em que cota se encontra, o trilheiro pode acompanhar uma curva de nível conhecida no mapa.

Este é um vasto assunto e de forma alguma poderia ser esgotado de uma só vez. O objetivo deste post é o de passar informações básicas que ajudem a começar o estudo de orientação, além de despertar o interesse de quem nunca viu o tema.

Treino é vital em todas as áreas do saber, e neste caso não é diferente. A melhor maneira de dominar orientação é treinando em campo. Mas cuidado, comece com pequenas saídas por áreas mais ou menos conhecidas. Assim, em caso de erro, o trilheiro não estará verdadeiramente perdido em área desconhecida.

Te vejo na trilha!

9 comentários:

  1. Andre, quando você fala "No hemisfério sul, aponte o número 12 para o sol. O norte estará exatamente entre ele e o ponteiro de horas". Você está dizendo que o norte estará exatamente no meio do caminho entre eles? Ou em algum ponto qualquer entre eles?

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    1. Acredito que seja na bissetriz do Ângulo obtido entre o ponteiro das horas e meio dia.

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  2. Bem observado JP, no texto não fui claro e não tinha percebido.

    Abaixo da linha do Equador, apontando o número 12 do relógio para o sol, o norte será a bissetriz entre este e o ponteiro de horas, ou seja, estará posicionado exatamente no meio do caminho entre eles.

    Um abraço!

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  3. qual a bussula mais indicada para um iniciante?

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    1. A bússola tipo silva tem sido usada com mais frequência por participantes de corridas de aventura, para leitura de mapas ela leva vantagem.

      A militar, que aparece aqui no post, tem uma possibilidade extra, que é tirar visadas de pontos de referência de forma simples e rápida.

      A escolha será questão de gosto mesmo.

      Abraço.

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  4. oi andré sou stanoga e estou fazendo o curso de tecnico ambiental.e gostaria de saber mais sobre cartas topográficas..na verdade nada sei ainda,pois estou começando essa matéria mais se vc me ajudar um pouco vou me dar bem!vou passar algumas instruções do que o prof já passou.

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    1. Você conseguiu entender a relação entre a carta e a bússola, no post?

      Ela é a base da coisa toda, a partir daí é questão de costume, quanto mais treino melhor a pessoa lê o terreno, enxergando em 3d o que o papel mostra em 2d.

      Use todas as oportunidades possíveis para treinar.

      No site do IBGE tem diversas cartas para download.

      Aproveite todas as dicas do seu professor, e puxe o máximo de informação que puder.

      Boa sorte!

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  5. Andre qual é o tipo de bussula mais comuns entre os trilherios

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    1. Olá, a mais usada é o tipo Silva, que tem maior facilidade de uso em leitura de mapas.

      Abraço.

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