domingo, 1 de março de 2015

Bucksaw

Conforme relatei neste post, a tarefa de cortar um tronco de limoeiro foi demais para a serra dobrável e até mesmo para o tomahawk, o que me fez pensar no tipo de equipamento que seria mais indicado para estes trabalhos maiores.

O fato é que morando em apartamento a vida toda, nunca havia me preparado para isso, pois não tinha onde usar lenha tampouco grandes pedaços de madeira e nem podia pensar em fabricar móveis rústicos.

Agora com a casa as coisas mudaram e o que antes eu apenas lamentava de ver jogado ao tempo agora posso pensar em como melhor aproveitar.

Algumas das madeiras trazidas para casa, pensando em uso futuro.


Machado eu serra?

Uma das opções que me passaram pela cabeça foi comprar um machado para cortar troncos com facilidade. É uma boa ferramenta sem dúvida, mas caso eu pretendesse utilizar a madeira para alguma coisa sem ser virar lenha gostaria que ficasse com cortes melhor acabados, e para isso eu precisaria de uma serra. Além disso para uso como lenha, tanto faz se foi cortada ou serrada.

O caminho estava  se definindo. Cheguei à conclusão de que neste momento uma serra seria mais útil que o machado, e comecei a pesquisar que tipo seria adequado a cortes moderados.

Bucksaw

Imediatamente me lembrei de já ter visto referências ao uso de lâminas de arco de serra para poda em molduras de madeira, algumas até mesmo feitas no mato, o que lá fora é chamado de bucksaw, mas não sei se tem nome específico por aqui. Se alguém souber, me avise.

Basicamente é uma serra para poda presa em uma moldura em forma de H ao invés de arco. Acima da trave horizontal uma corda torcida dá a tensão necessária ao conjunto, mantendo a lâmina esticada. Além de poder ser feita em casa com baixo custo, esta configuração permite que uma serra corte madeiras maiores do que sendo usada em seu arco original, pois a travessa fica posicionada mais alto que o arco, sendo assim contanto que tenha espaço no comprimento para a serra se mover ela continua cortando, enquanto o arco limita o tamanho do galho ou tronco.

Busquei alguns exemplos, e pegando uma idéia aqui e outra ali, comparando as soluções adotadas tirei minhas conclusões.

Variações de projeto

Existem três possibilidades:

  •  Montar a serra de desenho tradicional com calma em casa, usando parafusos e porcas(melhor borboletas) para fixar as extremidades da serra na moldura, e encaixes esculpidos com precisão nas traves;

Serra feita de forma tradicional. Fonte: Paul Kirtley's blog.

  • Montar a mesma serra em galhos coletados no mato, com encaixes feitos sem tanta precisão usando serra ou faca, e lâmina presa por meio de alguma travas simples(pressão), sejam elas pinos ou parafusos colocados diretamente na lâmina depois das traves;

Serra feita com material encontrado no campo. Fonte: Mark Emery - A Countrymans blog.
  • Fazer uma mistura dos dois métodos acima, usando galhos coletados no mato mas com furações e encaixes mais caprichados.

Uma serra que representa um meio termo. Fonte: Kevoutdoors.
 Cada uma das opções tem suas vantagens e desvantagens, a primeira é mais duradoura e tem melhor acabamento, a segunda é tão prática que pode ser feita no mato, apenas necessitando que seja levada a lâmina, travas e a corda, e a terceira não requer gastos com a madeira, mas tem a mesma precisão da primeira.

A montagem

A primeira coisa que fiz foi comprar a lâmina da serra, até porque todas as medidas das traves se baseiam no tamanho dela. A escolhida foi uma Stanley de 21", mas haviam outras de 24 e 30" na loja, inclusive de outras marcas, mas esta considerei suficiente para esta experiência e o fabricante é bem tradicional.

A serra em sua embalagem. Detalhe da etiqueta de preço.
Custou apenas R$4,50, ou seja, é realmente ínfimo o custo de montagem de uma.

Separei ainda um pedaço de paracord genérico preto, desses comprados nos sites chineses. Percebe-se nitidamente que não é o autêntico, mas pelo preço serve muito bem para amarrações menos vitais. Será usado no mínimo duas vezes o comprimento da serra, pois precisamos de duas voltas.

Todo o material necessário já separado.
Encontrei em uma gaveta duas argolas de chaveiro, que serviriam para prender a serra nas peças verticais.

Decidi seguir a segunda opção, até porque seria interessante mostrar que é simples montar uma serra destas em qualquer lugar.

Daí me surgiu uma idéia, eu sabia que ainda tinha bastante madeira do limoeiro jogada no mato, e seria uma reviravolta bem interessante que a própria árvore que demonstrou o problema fizesse parte da solução. Então fui até lá com a lâmina de serra e peguei um galho comprido. Estava um pouco judioado mas provavelmente serviria. Deste galho saíram 3 partes da moldura de madeira da serra.

Primeiro tirei as medidas e fiz um teste, cortei os pedaços com a própria serra, e apesar de flexível e sem cabo se mostrou mais eficiente que a pequena serra do Victorinox. Em 5 minutos tinha feito todos os cortes. Isto mostra que dá para montar uma destas apenas com uma faca ou canivete e os componentes da serra.

A própria lâmina serra os pedaços de madeira que viram as peças da moldura.

Depois prendi um a um os pedaços na bancada e usei a draw knife para remover a casca e as imperfeições. Haviam alguns nós e marcas de cortes, tudo saiu após uma raspagem cuidadosa.
 
A draw knife descasca e acerta a madeira.


Com cuidado a madeira vai tomando formas certas. O Juca só olha...

O resultado ficou melhor do que esperava, as madeiras ficaram até bem certinhas.

Peças cortadas e trabalhadas, melhores do que esperava.

Após a madeira secar uns dias, passei para a etapa de fazer os encaixes. Aqui segui na experiência de montar a serra mais simples possível, que poderia ser feita no mato.

As peças já definidas e cortadas.
Com ajuda do Parang e da serra do Victorinox, tratei de cortar encaixes para o paracord na face externa das estruturas verticais, e também os entalhes na face interna onde a trave horizontal se encaixa.
 
Encaixe da serra e da argola que a trava.
Fiz cortes em formato de V nelas e afinei as pontas da trave no formato inverso.

Ainda nas partes verticais, cortei as fendas de encaixe da serra na parte inferior, e para garantir fiz dois rebaixos onde as argolas encostariam.

Faltava a trava da corda, e não tinha madeira para isso.

Resolvi mudar um pouco de material e fui buscar um pedaço de bambu em um mato próximo de casa. De brinde voltei com 3 carrapatos. Faz parte da vida de qualquer aventureiro...

Bambu coletado, hora de fazer a trava da corda.
Aqui abro um parêntese para mencionar o excelente desempenho do parang, que cortou o bambu seco e amarelo com a facilidade de um facão bem maior.

Detalhe do corte limpo que o parang fez no bambu.
Após medir visualmente o comprimento necessário cortei o excesso com o Victorinox e ainda com ele fiz dois furos na parte de cima, por onde passaria o paracord. Por razões estéticas cortei o pedaço a partir de onde encostaria na trave pela metade.

Depois veio a hora de montar tudo, e foi aí que vi que a coisa não ia bem.

A serra montada, bonitinha mas pouco funcional.

Apesar de ter ficado bonitinha, não funcionou conforme o esperado.

Pela irregularidade da madeira e a simplicidade do método que utilizei, os encaixes estavam longe de ser precisos e a estrutura ficava bamba e torcendo a serra, chegando ao ponto de desmontar toda quando aplicava força na tentativa de cortar madeira grande e dura.

Confesso que bateu uma frustração, mas a culpa foi minha e as razões eram óbvias.

A madeira utilizada era muito fina e torta e eu pequei nos encaixes, sendo que é no cuidado com os detalhes que se dá a diferença entre uma serra que só fica bem na foto e uma ferramenta funcional.

Decidido a não abandonar o projeto resolvi mudar de rumo, deixando as madeiras até então utilizadas de lado e começando do zero.

Mas isto fica para outro post...

Te vejo na trilha!

2 comentários:

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