sábado, 9 de abril de 2011

Por que se preparar?

Imagem: Google.
Muitas pessoas me perguntam qual a razão de treinar para agir em casos de emergência se algumas delas não pretendem se aventurar em regiões selvagens. Ou ainda por que pensar em estocar mantimentos se a cada esquina existem mercados e lojas com os artigos de maior necessidade.

A resposta é sempre a mesma: Porque nunca se sabe em que momento uma emergência virá.

Eventos recentes, no Brasil e no exterior nos mostram que fenômenos naturais violentos são uma realidade, e mesmo nações preparadas para encará-los sofrem pesadamente quando as proporções são grandes.

Se nações que se dedicam a planejamentos estratégicos e ações de conscientização popular e prevenção e contenção de acidentes podem parecer reféns da natureza, o que esperar de países e pessoas que não se preparam mínimamente para o pior?

É importante lembrar que não são necessários eventos cataclísmicos para desestruturar nosso modo de vida. Um alagamento, ou mesmo a interrupção de fornecimento de energia elétrica podem afetar severamente os moradores de uma determinada região, caso em que as prateleiras de mercados se esvaziam rapidamente, e o caos se instala.

Muitos se recusam a crer, mas nossa máscara social se baseia em bases frágeis, basta uma pequena mudança no fornecimento de necessidades básicas para que as convenções sociais caiam por terra, e a natureza selvagem do homem se revele. Episódios bem documentados de saques, desespero e violência na passagem do furacão Katrina e outros eventos são provas disso. Muitas vezes, a atitude mais segura é ficar em casa e aguentar até que a situação melhore.

Não pretendo com isso sugerir que todos se transformem em paranóicos, estocando largas quantidades de comida e suprimentos em geral, nem tampouco que deixem de viver a vida esperando o pior. Mas assim como temos extintores de incêndio em nossos carros para o caso de uma necessidade, um pouco de preparação e reserva para outras emergências não fazem mal.

Um exemplo trivial mas que vejo no dia a dia é que devido à relativa estabilidade da rede elétrica no Rio de Janeiro nos últimos anos, muitas pessoas deixaram de estocar lanternas, pilhas e as tradicionais velas em suas casas. Os apagões como os recentemente acontecidos as pegam de surpresa.

Meu próprio prédio foi um dos casos. Superconfiantes com a estabilidade do fornecimento de energia elétrica, os síndicos em determinado período recente não se preocuparam com a confiabilidade das poucas luzes de emergência instaladas, e não forneceram lanternas nem pilhas aos porteiros. Por 3 vezes nos últimos apagões fui ajudá-los com minhas lanternas a executar as tarefas mais básicas, como abrir o portão da garagem, e a portaria social, além de ajudar alguns moradores que foram pegos de surpresa na escadaria.

O que este exemplo nos mostra? De um prédio grande, com quase 100 apartamentos, um único morador estava realmente preparado para uma eventual falta de luz. Imaginem se o caso fosse mais grave? Após conversar com o síndico, foi feita uma revisão na estratégia de emergência do prédio, e agora as luzes de emergência funcionam, e estão melhor distribuídas.

Vamos a outra possibilidade. Na década de 90 houve aqui na cidade do Rio um problema com o fornecimento de gás. Não me recordo exatamente o motivo mas por cerca de uma semana o bairro de Botafogo ficou absolutamente sem gás. O que vi foi uma corrida para as lojas de ferragens em busca de todo tipo de fogareiro, já que ninguém tinha em casa um meio alternativo de cozinhar(microondas eram raridade) e os restaurantes também não podiam fornecer comida. Presenciei na loja de um tio um fogareiro a querosene jacaré, então com mais de 20 anos, ser quase leiloado entre compradores, pois todos os outros mais modernos haviam se esgotado.

Vamos lá, passados 20 anos, o que mudou? Quantas pessoas consideram a possibilidade de algo dar errado no abastecimento de gás? Em casa, além do fogareiro Super Tuna, tenho 2 fogareiros pequenos, que funcionam a base de cartuchos de butano. E sempre no mínimo um cartucho cheio para cada.

Cerca de 15 anos atrás, quando só tinha um destes fogareiros, tive que usá-lo para socorrer um almoço fadado ao fracasso. Meus pais haviam marcado na casa de amigos um arroz de polvo, só que na hora de prepará-lo o fogão fornecia uma ridícula chama, que lembrava o fim de botijão. Corri em casa e peguei meu fogareiro e o cartucho novo que o acompanhava. Chegava a ser engraçado aquele fogareiro minúsculo sustentanto uma panela com comida para 10 pessoas. Os olhares de incredulidade se tranformaram em admiração quando o almoço ficou pronto.

Ainda no tema alimentação,  temos outro ponto interessante. A distribuição atual de supermercados, padarias e outros tipos de comércio nas grandes cidades facilita a vida a tal ponto que conheço pessoas que não compram comida sequer para uma semana, pois qualquer necessidade basta ir na esquina comprar. Acontecendo qualquer eventualidade que os coloque em situação de emergência serão forçados a correr em desespero para os mercados tentando comprar suprimentos, e talvez não encontrem.

O que me lembra do caso da gripe aviária, em que as autoridades recomendavam que a população evitasse sair de casa por medo de contaminação, e estas mesmas pessoas forçosamente se arriscavam pois havia a necessidade regular de irrem fazer compras.

Para finalizar, um exemplo ainda mais simples. Kit de primeiros socorros. Em muitos lares não há sequer o mínimo para cuidar de ferimentos passíveis de acontecer na cozinha, como cortes e queimaduras. Já vi empresas que sequer band-aids tinham, e seus funcionários trabalhavam com estiletes e outros objetos corriqueiramente. Isso significa risco de pequenos acidentes e preparação zero para encará-los.

Graças a esta constante mentalidade de que nada é estável e emergências podem acontecer em qualquer lugar e hora, mantenho um esquema mínimo de preparação, que já me ajudou em diversos momentos.

Interessante observar que os países mais desenvolvidos mantém os melhores programas de planejamento estratégico em casos de emergência. Certamente não é por falta de conhecimento.

Pense nisto. Como dizem nos EUA, stay safe.

Te vejo na trilha!

14 comentários:

  1. Excelente texto, André.
    Infelizmente essa é a triste realidade.
    Aqui na cidade, deu um problema num cabo de fibra ótica e ficamos três dias, sem internet, telefone e celular. Só quem se comunicava com outras cidades eram os operadores de rádio amador. Não funcionaram bancos, seupermercados, lojas.

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  2. Pois é, olha só como precisa muito pouco para causar muito transtorno.

    Abraço.

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  3. A falta de gás da década de 90, salvo engano, pode ter sido decorrência de uma greve da Petrobrás ou dos distribuidores. Lembro que fiquei horas num fila para comprar um botijão.
    Na ocasião cozinhávamos feijão num fogareiro abastecido de palha, improvisado num latão de tinta, para evitar de usar o gás.

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    1. Me lembro desta época, vi gente comprando até antigos fogareiros a querosene da marca jacaré que estavam encalhados há anos na casa de ferragens de um familiar.

      Este é um bom exemplo da fragilidade dos sistemas de distribuição, e de como um colapso destes nos afetaria.

      Um abraço.

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  4. Eu não sou paranóico, mas carrego no meu carro o suficiente para emergências simples.

    Também carrego sempre comigo um canivete suíço, uma pequena lanterna e remédios para dor-de-cabeça e indisposição gástrica. É uma preparação simples que já meu auxiliou em vários momentos!

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    1. Pois é, no caso do Victorinox, não dá nem pra eu tentar me lembrar das vezes em que tive que usar para resolver pequenos problemas na rua. O Wave está indo pelo mesmo caminho.

      Abraço.

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  5. Ótimo post, muito bom o site, estou aprendendo muito.
    Sempre procurei ser uma pessoa previnida, mas depois que comecei a conhecer mais sobre sobrevivência na selva, bushcraft e assuntos afins, estou cada vez mais precavido e já montando meu EDC e melhorando meus suprimentos em casa tando de alimento quanto de primeiros socorros.

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    1. Ser um cara preparado para enfrentar imprevistos é uma enorme vantagem em relação às pessoas que insistem em acreditar que tudo sempre funciona como deve e emergências não acontecem.

      Vamos ficar do lado dos que se preparam.

      Abraço.

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  6. Parabéns pelos escritos...

    Reforça a ideia de: "um homem prevenido vale por dois"

    E posso dizer, e acho que vc concorda que: vale até por mais.

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    1. Obrigado Lucas, realmente quem está preparado sai na frente e chega mais longe.

      Abraço.

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  7. cara muito bom seu texto,muito maneiro,na minha cidade ficamos 2 dias sem internet,telefone,nada só a programação de tv,o povo já tava pirando,n comprava nada já q precisava de eletricidade,cartão n passava nada!!o povo n entende como a economia é fragil e as redes q ligam o mundo tmb são frageis

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    1. Que bom que gostou, é isso mesmo, o equilíbrio do sistema de distribuição é frágil, como você pôde ver...

      Abraço!

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  8. brilhante abordagem, se mais pessoas se preparassem minimamente seria muito melhor de enfrentar eventualidades. Pensa se acontece algo mais grave, é impossível você auxiliar todas as 100 famílias do seu prédio, não importa quanto preparo tenha.
    Além do mais, o texto me alertou para a questão do estoque de comida, já várias vezes tive que sair no domingo para comprar o almoço.

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    1. Exatamente, excetuando as situações onde sua casa é o foco do problema(inundações, deslizamentos, etc), não tem razão para uma pessoa passar aperto quando sua cidade ou bairro enfrenta problemas no abastecimento.

      Um mínimo de preparação facilitaria inclusive o trabalho da defesa civil.

      Obrigado por comentar, e um abraço.

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